Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Na Doença Coronário-Miocardica a Insuficiência Cardíaca É Mais Freqüente que o Enfarte Miocárdico e o Cardiotônico É a Solução
Quintiliano H. de Mesquita, Cardiologista
Nas ultimas 3 décadas tem-se observado que o enfarte miocárdico (EM) é apresentado pelos cardiologistas intervencionistas através da mídia com a destacada posição do grande vilão e matador do século, só evitável através das medidas invasivas (angioplastias) e/ou cirúrgicas (pontes de veias safenas e/ou mamárias), a despeito de vários estudos estatísticos pós-cirurgia com a incidência anual de 3-8% de EM.
Em conseqüência de tal postura cardiológica, os portadores de aterosclerose coronária são instruídos sobre os riscos do EM, apresentado sempre como a iminente ameaça de vida em todos os casos, passando diretamente à indicação da imediata correção invasiva e/ou cirúrgica e finalizando ameaçam sempre com a categórica sentença: se não operar e tiver o EM, morre!
Tal afirmação contrasta com a mortalidade do EM que desde 1941 não excede a 15%, mas que, no entanto, tem sido agravada diante de tais intervenções quando praticadas nas síndromes coronárias agudas (angina instável (AI) ou EM) com registros de mortalidade superior a 20% nos primeiros 30 dias e acima de 30% no 1º ano.
No meio cardiológico o EM tem sido considerado como a única preocupação quanto à evolução da doença coronário-miocardica.
Entretanto, curiosamente, em nossa prática tem sido registrada a insuficiência cardíaca (IC) como a condição clinica mais freqüente que o EM complicando a sobrevida dos coronáriopatas; o que, a nosso ver, tem tornado menos grave o prognóstico da doença coronário-miocardica por representar condição clínica de fácil e seguro controle terapêutico com longa sobrevida.
Diante disso vejamos os nossos registros sobre as incidências dessas 2 condições clinicas, nos períodos de antes e depois de 1972, quando a nossa conduta terapêutica passou da atitude contemplativa e sintomática com o emprego isolado do dilatador coronário para a administração do cardiotônico com o dilatador coronário, em caráter permanente, segundo os novos conceitos de nossa teoria miogênica (TM), como garantia da preservação da estabilidade miocárdica e na prevenção da AI, EM e IC.
Essas condições são observadas no decurso da progressiva miocárdiopatia coronária dependente entregue à própria sorte e que através da maior ou menor área de comprometimento ventricular, dá lugar à instalação da fase de instabilidade miocárdica e sintomática representada pelas manifestações de AI, do EM ou da IC.
No período de 17 anos, anterior à 1972, só com o emprego do dilatador coronário, os 154 casos (100 H e 54 M) de angina estável (AE) sem EM-prévio, com a idade média de 57 anos (32-79 a) mostraram índices de: EM: 3,2% (0,18% ao ano), IC: 5,8% (0,34% ao ano) e mortalidade (M) de 13,6% (0,80% ao ano) com a expectativa média de vida de 64 anos; representaram índices realmente aceitáveis que não nos levaram a considerar o EM como uma patologia representando imediato risco de vida, contrastando com o que vem sendo apregoado de maneira enganosa nas ultimas décadas pelos ortodoxos intervencionistas.
Naquele tempo a IC já representava maior índice de morbidade que o do EM e significavam a instalação da fase de instabilidade miocárdica na doença coronário-miocárdica.
Naquele mesmo período de 17 anos, os 126 casos (116 H e 10 M) de AE com EM-prévio com a idade média de 53 anos (34-81 a) apresentaram índices de: re-EM de 19% (1,1% ao ano) e IC de 45,2% (2,65% ao ano) com M de 79,3% (4,66% ao ano) com a expectativa média de vida de 64 anos; neste grupo de casos, geralmente observados com características de restabelecimento da estabilidade miocárdica, com registro da AE após a cura do EAM conseguida com repouso absoluto de 50 dias e medicação dilatadora coronária completada por medicamentos sintomaticamente exigidos.
Os índices registrados só com o emprego do dilatador coronário têm muito valor para a apreciação da evolução natural dos casos e mais uma vez a incidência anual de re-EM (1,1%) não autoriza a generalizada desinformação propalada pelos intervencionistas e muito menos a imposição do risco imediato de vida, através das medidas invasivas e cirúrgicas nas síndromes coronárias agudas acima referidas.
Particularmente significativa é a incidência anual da IC (2,65%) que não é tomada em consideração pelos grupos da cardiologia intervencionista, mas que na prática representa uma complicação fácil de ser corrigida e levada a uma convivência tranqüila, mantida com o cardiotônico que também afasta o risco do re-EM.
A predominante incidência da IC sobre a do EM é patente nos 2 grupos – sem e com EM-prévio -, servindo para demonstrar além disso que o prognóstico no 2º grupo indica processo patológico mais avançado quando a miocardiopatia é reconhecida como bem mais desenvolvida; em verdade, tudo depende do estado miocárdico do caso, independentemente das condições arteriais que passam geralmente a contar com a circulação coronária colateral que, mesmo em casos de obstruções totais das 3 artérias coronárias, tem garantido uma sobrevida útil e proveitosa.
No entanto, quando grupos semelhantes são apreciados, fica patente que os casos sob a ação permanente do cardiotônico, apresentam índices bem mais significativos e neste particular merece ser destacado o aumento da expectativa média de vida de 64 anos para 70-72 anos.
No período de 17 anos, os 684 casos (322 H e 362 M) de AE sem EM-prévio com a idade média de 55 anos (25-86 a) tratados com cardiotônico + dilatador coronário em complementação à circulação coronária colateral, registramos índices de: EM: 2,1% (0,12% ao ano), IC: 5,1% (0,30% ao ano) e M de 8% (0,47% ao ano) com a expectativa média de vida de 72 anos
Nos 114 casos (96 H e 18 M) de AE com EM-prévio, registramos índices de: re-EM: 5,2% (0,30% ao ano), IC: 13,1% (0,77% ao ano) e M de 29,8% (1,75% ao ano) com a expectativa média de vida de 70 anos.
Do confronto das 2 épocas e 2 condutas terapêuticas diversas os ensinamentos adquiridos são gratificantes, porque na 1ª época os casos mantidos só com dilatador coronário e provável ação revascularizante da circulação coronária colateral propiciou-nos no 1º grupo de AE sem EM-prévio a observação de índices realmente moderados que nos trouxeram certa tranqüilidade e confiança.
Entretanto, já no 2º grupo de AE com EM-prévio, em que as condições miocárdicas representam patologia mais avançada e apesar de apresentarem o retorno à relativa estabilidade sintomática e miocárdica assistida pela circulação coronária colateral, em igual período de 17 anos sob o mesmo tratamento, os índices de EM, IC e M mostraram-se desalentadores e só comparáveis aos atuais índices de EM e M registrados pelos cardiologistas intervencionistas ortodoxos.
Na época seguinte (1972-1989), a introdução do cardiotônico preconizado pela TM nos 2 grupos de casos de AE sem e com EM-prévio, trouxe-nos a certeza de que o cardiotônico e dilatador coronário complementando os efeitos da circulação coronária colateral, formada automática e espontaneamente pela própria natureza, são capazes de proporcionarem uma prolongada sobrevida aos portadores de coronário-miocárdiopatia, garantindo-lhes a estabilidade miocárdica e sintomática, prevenção do EM e da IC, sendo esta realmente predominante mas de fácil controle.
Diante do exposto não há razão para a prática do intervencionismo compulsivo que é desenvolvido principalmente a partir dos centros universitários que procuram transformar a cardiologia em especialidade cirúrgica e invasiva, a título de proteger o portador de coronário-miocárdiopatia contra o enfarte do miocárdio que tem se apresentado de fato com baixa freqüência.
Faz-se necessário que o cardiologista transmita ao meio onde exerce sua atividade profissional as verdadeiras informações acerca da doença coronário-miocárdica e como conviver com a mesma, sem agressões desnecessárias, injustificáveis e fantasiosas, de alta tecnologia e a alto preço, procurando assim respeitar o direito de escolha do cidadão, transmitindo-lhe toda a verdade que é o dever do médico.
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