Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Quando cientistas, indústrias farmacêuticas e a mídia desejam criar o máximo impacto para suas descobertas, produtos ou notícias, especialmente no campo de prevenção da doença cardíaca ou câncer, são publicadas estatísticas de redução do risco relativo ao invés de estatísticas de redução do risco absoluto.
Para entender melhor os dois termos e seu significado, vamos dar um exemplo: Se a chance de morrer foi reduzida de duas em mil para uma em mil, representa uma queda no risco relativo de 50%, o que pode significar um bocado. Mas, na realidade, o risco absoluto (RRA) caiu de 0,2% para 0,1%, ou colocado de outra forma, a chance de sobreviver foi aumentada de 99,98% para 99,99%, que é na realidade bastante pequena. Assim, as estatísticas de redução do risco relativo servem para capturar a atenção através de manchetes de jornais, sendo passadas aos pacientes como se fossem a possibilidade de um grande aumento na prevenção da mortalidade ou de alguma morbidade. Por esse motivo é importante perguntar ao médico quantas pessoas precisam ser tratadas para que uma se beneficie (NNT) e especialmente sobre os riscos e efeitos colaterais do tratamento.
Em uma diferença de 2-4% na redução do risco absoluto observada entre o grupo medicado e outro grupo tomando placebo, com a introdução da redução do risco relativo os pesquisadores podem clamar uma melhoria de 20-40%, que soa mais impressivo. Em ordem de tornar essa diferença de 2-4% estatisticamente significativa, os pesquisadores necessitam tomar uma grande amostragem de pacientes -- normalmente superior a 5000 -- dentro de um período de tempo suficiente para o estudo, antes de seu início. Nessa estimativa, quanto maior a diferença que se espera encontrar, menor será o número de pessoas que precisarão estar envolvidas e menor tempo necessário para que o teste tenha a força apropriada.
Sobre o assunto o Dr. Sérgio Vaisman diz em artigo: "Não se deixe enganar facilmente. Em todas as vezes que você ouvir que um medicamento possa reduzir dramaticamente um fator de risco, diga a você mesmo que isso pode ser uma forma manipulada de dados para lhe convencer que o produto é confiável. As indústrias de medicamentos deveriam ser obrigadas a suspender o uso dos dados relativos em suas promoções e marketing. Se isso acontecesse, a própria mídia deixaria de lado muitas situações publicadas sobre problemas na saúde".
Infelizmente, são poucos os autores que expressam seus achados em termos de RRA ou NNT. Estudo envolvendo as 5 revistas médicas mais citadas - Annals of Internal Medicine, British Medical Journal, The Lancet e New England Journal of Medicine - mostrou que em 359 artigos sobre testes controlados e aleatórios, que foram publicados em 1989, 1992, 1995 e 1998, o NNT foi relatado em apenas 8 artigos enquanto que a redução do risco absoluto foi relatada em somente 18 artigos (JAMA).
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