Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Confronto de Duas Épocas e Duas Rotinas Terapêuticas*

 

Quintiliano H. de Mesquita, Cardiologista

 

Os pacientes coronários com e sem enfarte prévio foram tratados em duas épocas diferentes e sucessivas e com duas rotinas terapêuticas, tendo 1972 como o ano divisório e de mudanças fundamentais.

Antes de 1972 a rotina terapêutica era representada pelo dilatador coronário. Até 1963, eram utilizados a papaverina e nitratos, sendo logo depois substituídos pela prenilamina e verapamil. A partir de 1972, a nova rotina terapêutica passou a contar com a administração do cardiotônico e dilatador coronário antagonista de cálcio.

Os resultados das duas épocas são então confrontados, levando-se em conta os dois grupos de casos.

 

Primeiro grupo de pacientes com coronariopatia estável sem enfarte prévio: 772 pts.

Grupo 1a observado antes de 1972, no total de 154 pts (54 M e 100 H), com idade média de 57 anos (32-79a).

Grupo 1b, observado após 1972, no total do 684 pts (362M e 322 H), tendo recebido o resíduo de 66 pts do Grupo 1a, com idade média de 55 anos (25-86a).

 

Segundo grupo de pacientes com coronariopatia estável com enfarte prévio: 217 pts

Grupo 2a, observado antes de 1972, no total de 126 pts (10 M e 116 H), com idade média de 53 anos (34-81a).

Grupo 2b, observado após 1972, no total de 114 pts (18 M e 96 H), tendo recebido resíduo de 23 pts do Grupo 2a, com idade média de 59 anos (42-90a).

 

No Grupo 1, confrontados os índices de Morbidade e Mortalidade dos Grupos 1a e 1b, registramos:

Grupo 1a: 154 pts - 17 anos

Morbidade: Enfarte 3,2%; insuficiência cardíaca: 5,8%

Mortalidade: 13,6%; morte súbita: 9,7%. Média de idade no óbito 64 anos

Grupo 1b: 684 pts - 17 anos

Morbidade: enfarte: 2,1%; insuficiência cardíaca: 5,1%

Mortalidade: 8%; morte súbita: 3,6%. Média de idade no óbito: 72 anos

 

No Grupo 2, temos:

Grupo 2a: 126 pts - 17 anos

Morbidade: Reenfarte: 19%; insuficiência cardíaca: 45,2% (64,9%, dos casos desde a instalação do enfarte)

Mortalidade: 79,3%; morte súbita: 33,8%. Média de idade no óbito: 64 anos

Grupo 2b: 114 pts - l7anos

Morbidade: reenfarte: 5,2%; insuficiência cardíaca: 13,1%

Mortalidade: 29,8%; morte súbita: 13,1%. Média de idade no óbito: 70 anos.

   

Do Grupo 1, o confronto de períodos de 17 anos, antes e depois de 1972, mostra as incidências de insuficiência cardíaca e de enfarte sem grandes valores absolutos, no entanto a mortalidade tem sido muito menor no Grupo tratado com o cardiotônico e a sobrevida parecendo maior.

   

Do Grupo 2, em igual período de 17 anos, antes e depois de 1972, as diferenças são mais significantes e marcantes no Grupo tratado com o cardiotônico, assim as incidências de reenfarte e insuficiência cardíaca e a mortalidade são menores e a sobrevida bem maior que no Grupo sem cardiotônico.

 

Enquanto os melhores índices estatísticos de todas as demais formas de tratamento clínico ou de cirurgia + tratamento clínico com exclusão do cardiotônico, registram incidências de enfarte miocárdico e Mortalidade entre 2 e 4% ao ano, no Grupo 1b aqui representado, no período longo de 17 anos, ocorreu enfarte agudo com índice acumulado de 2,1 %, insuficiência cardíaca com o de 5,1%; sendo a mortalidade por causas cardiovasculares incluindo acidente vascular cerebral de 8% e morte súbita em 3,6%, com média de idade no óbito de 72 anos.

Em igual período de observação, o Grupo 2b, correspondente ao estágio mais avançado da coronariopatia e miocardiopatia isquêmica pós-enfarte, ocorreu o reenfarte miocárdico com índice cumulativo de 5,2%, insuficiência cardíaca com o de 13,1%, sendo a mortalidade por causas cardiovasculares (incluindo AVC e ruptura de aneurisma de aorta abdominal) de 29,8% e morte súbita em 13,1%, contrastando com 79,3% e 33,8%, respectivamente, do Grupo 2a.

Parece-nos que, fora de dúvida, o cardiotônico aumentou significativamente o tempo de sobrevida dos pacientes e reduziu as complicações nesse estágio avançado da coronariopatia crônica e nítida miocardiopatia isquêmica; tendo aumentado a idade média por ocasião do óbito de 64 anos do Grupo 2a para 70 anos do grupo 2b, a exemplo do que se nota também nos Grupos 1a e 1b.

Do estudo comparativo entre os Grupos 2a e 2b, temos a forte convicção de que o enfarte miocárdico não deve ser encarado como fator de interrupção imediata de vida, porque temos registrado em nosso último estudo a mortalidade de 12,3% na fase aguda e a longo prazo o índice de 29,8% em 17 anos (idade média de 70 anos) no Grupo 2b, o que representa algo de novo e mais promissor - o cardiotônico - do que qualquer outra forma de terapêutica medicamentosa ou cirúrgica até agora ensaiada.

Em suma, a medicação cardiotônica tem sido considerada por nós como a terapêutica antienfarte, porque ficou comprovada de maneira insuperável na angina do peito instável aguda ou síndrome intermediária em crescendo, a sustação imediata da mesma e conseqüentemente a prevenção do enfarte agudo do miocárdio; sendo a medicação vasodilatadora coronária interpretada como antianginosa. Portanto, o cardiotônico é apresentado nessas condições como o agente terapêutico imprescindível e responsável pelo prolongamento da sobrevida e redução dos índices de Morbidade e Mortalidade na coronariopatia crônica e miocardiopatia isquêmica, com e sem enfarte prévio.

 

Notas:

1)               Veja os resultados de nova pesquisa com a extensão de 17 para 28 anos neste confronto, no artigo “Cardiotônico na Coronário-Miocardiopatia Garante Estabilidade Transformando Enfarte em Evitável Acidente de Percurso (1972-2000)”, em http://www.infarctcombat.org/polemicas/icem.html

 

2)               O artigo “Confronto de Duas Épocas e Duas Rotinas Terapêuticas” foi extraído de capítulo com o mesmo título do livro "Como escapar da ponte de safena e do enfarte do miocárdio só com remédio", Mesquita, QHde: Editora Ícone, 1991 cujo resumo pode ser visto em http://www.infarctcombat.org/livros/icem.html

 

Veja também

Seção A Doença