Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Das Denúncias Contra a Cirurgia Cardíaca
Denúncias contra a cirurgia cardíaca não são exatamente uma novidade. Desde o inicio da década de 1980, o eminente Professor Jayme Landmann da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, já denunciava a ineficácia da cirurgia de ponte de safena, por não trazer benefícios em relação a incidência do enfarte e quanto a redução da mortalidade. Em seus livros, “Evitando A Saúde & Promovendo A Doença” (1982) e “Medicina Não é Saúde” (1983) comentou sobre ela:
“Alguns mitos que também já foram destruídos em relação à cirurgia de ponte de safena: 1.º - o paciente com angina instável (enfarte iminente) não deve ser operado, como se queria até há pouco, no pressuposto de que a cirurgia preveniria o enfarte, o que não acontece. Além disso, a cirurgia feita nesses casos apresenta alto índice de mortalidade; 2.º - a presença de lesões obstrutivas em artérias não indica a iminência de enfarte.; 3.º - a classificação pré-operatória do número de vasos afetados também não é um dado seguro para indicação precisa, pois mais importante que esse fato, talvez, seria a área ameaçada de sofrer enfarte. Uma das grandes indicações desse tipo de cirurgia seria, para muitos autores, a melhora da qualidade de vida, em razão do desaparecimento da dor. Nesse particular, não há um dado objetivo a ser medido. O único seria talvez, a volta ao trabalho depois do enfarte ou depois da cirurgia, e nesse particular estudos demonstraram que a proporção dos que voltam ao trabalho é igual nos dois casos. Voltam ao trabalho os que trabalhavam antes da cirurgia e do enfarte. Os que não trabalhavam não voltam a trabalhar.”
“É preciso lembrar que, após a operação, a grande maioria dos pacientes muda seus hábitos de vida; faz mais exercício e abandona o fumo, emagrece e continua a usar, dessa vez mais seriamente, remédios beta-bloqueadores e dilatadores coronarianos. Desse modo, fica dificílimo estabelecer o efeito da cirurgia isoladamente.”
“Todos estes fatos de restrição à cirurgia desse tipo são ignorados do grande público, iludido pela difusão do procedimento nos meios leigos de comunicação. Hoje em dia, os pacientes, suas famílias, seus clínicos e cardiologistas exercem forte pressão para a realização de cineangiocardiografias, mesmo em casos sem qualquer indicação. O desejo de fazer alguma coisa supera o desejo de apurar os efeitos. E a essas pressões não se opõe uma resistência vigorosa, mesmo porque a cirurgia resulta em lucros diretos para o cirurgião e em lucros diretos e indiretos para o hospital onde ela é feita, através do prestigio que este passa a adquirir.”
“O crescimento é tamanho que, dentro em pouco, se chegarmos à conclusão lógica da necessidade de estabelecer limites à sua expansão, quer por desilusão, quer por melhor evolução clinica, quer por julgarmos mais adequado diversificar os gastos para outras prioridades mais consoantes com as necessidades de nossa população, esta recessão passará a configurar novo problema. Um número crescente de pacientes está sendo operado, não por ter angina intratável, mas por ter esperança, embora sem evidência de que a ponte de safena previna o enfarte e prolongue a vida. A se tornar aceito este ponto de vista, assistiremos (e já estamos assistindo) à realização de cineangiocardiografias em centenas de milhares e até milhões de doentes assintomáticos ou com leve sintomatologia, seguidas de cirurgias naqueles em que a obstrução fosse vislumbrada...”.
“A vida e a qualidade de vida de uma enorme população com doença coronária nesta e em futuras gerações vai depender de sérias decisões a serem tomadas nesse campo. Elas não podem depender dos milhões de dólares investidos em equipamentos e salas de cirurgia, dos milhões investidos na formação de recursos humanos especializados, da manutenção do prestigio dos que fazem a cirurgia – que não pode ser arranhado -, ou do prestigio dos que se submeteram ao tratamento e, dispondo dos poderes de mando, estimulam o procedimento por um dever de gratidão”
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