Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

A cirurgia de Ponte de Safena, o Poder dos Monopólios que Manipulam a Patologia Cardíaca e sua Influência na Mídia

 

O Dr. Efrain Olszewer, especializado em cardiologia pelo INCOR-FMUSP, escreve em seu livro “Safenando aos Safenados, Despindo a Cirurgia de Ponte de Safena” de 1992*:

 

“A cirurgia de ponte de safena, sem dúvida nenhuma, é o procedimento cirúrgico e/ou médico mais rentável. Tanto é assim que as estatísticas americanas têm demonstrado que os cirurgiões de coração dos Estados Unidos são os que têm o melhor rendimento econômico anual, nos últimos 10 anos. Porém, as doenças de coração continuam no primeiro lugar como causa de mortalidade naquele país, o que vem mostrar que não existe uma relação direta entre o número de pontes realizadas e a redução da taxa de mortalidade por problemas cardíacos.

 

É um procedimento rentável mas não só para os médicos; é mais rentável ainda para a grande indústria tecnológica de medicina e evidentemente para a indústria farmacológica, que criou em conseqüência um monopólio na manipulação da patologia cardíaca. E qualquer crítica que possa ser feita sobre a sua eficácia deve ser qualificada de falta de fundamento crítico, passa por ignorante, fazendo monopólio do uso de sua influência para desprestigiar os críticos, já que estes monopólios manipulam bilhões de dólares, que lhes permitem um fácil acesso a jornais, rádios e televisão que dependem muitas vezes destas verbas para manter o funcionamento de suas atividades, e como conseqüência, anunciam com grande estardalhaço as notícias sobre a ponte de safena, mas são colocadas de lado, ou em pequenos textos, em páginas sem destaque, suas críticas.

 

Mas todo princípio que é rentável tem outros grupos interessados em penetrar para cortar essa hegemonia, já que representa uma parcela importante dos investimentos econômicos. Mas essa penetração na maior parte das vezes só é feita por outros grupos de poderio econômico, que aparecem com soluções intermediárias, que visam “quebrar o galho” da patologia coronariana, aumentando os custos, sem diminuir os efeitos colaterais, e sem alterar as estatísticas de mortalidade cardíaca, soluções que são altamente rentáveis, tais como a angioplastia, o laser, os trombolíticos, que sem dúvida têm sua utilidade porém tentam ocupar o mesmo espaço da cirurgia de ponte de safena, o que cria atritos nos próprios grupos interessados.

 

Como altos investimentos são realizados para manter em funcionamento estes monopólios, o lucro tem relação direta com que é cobrado por cada participação, assim como o número dos procedimentos realizados, o que determina que muitos centros hospitalares, na medida que vão comprando tecnologia, indiretamente pressionam para que o número de procedimentos aumente porque não só tem de ser pago este desenvolvimento tecnológico, mas também tem de ser obtido o lucro destes investimentos.

 

Não seremos os primeiros a colocar estes conceitos que incomodam os monopólios, que sabem ser verdade, porém com o controle que têm sobre a mídia impedem sua difusão para os principais beneficiários que são os pacientes, fazendo o possível para colocar um véu na verdade para encobrir estas atividades, com o intuito de manter sua lucratividade, muitas vezes reinvestida em novos desenvolvimentos tecnológicos, que evidentemente aumentam nosso custo de saúde, e na maior parte das vezes sem resultados aparentes no controle das taxas de morbimortalidade.

 

Acreditamos que será impossível rever estes princípios na medida em que não temos força econômica para trazer de volta uma medicina que vise a saúde integral do paciente e não “quebrar o galho” da saúde, oferecendo terapias limitadas na sua efetividade, porém de custo muito alto, muitas vezes não só para o paciente, mas para toda a sociedade. Mas estas mudanças só serão possíveis na medida em que a mídia se encarregue de informar a população dos fatos relacionados aos conceitos de saúde, independente da sua dependência econômica para com os monopólios da medicina”.

 

* Editora Ícone, 1992

 

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