Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Cirurgia de Ponte de Safena: Não Podemos ser Tratados como um Rebanho de Ovelhas Inocentes Prontas para o Sacrifício.

 

Carlos Monteiro, empresário paulista, coloca em discussão a ponte de safena através de artigo publicado no Diário do Comércio e Indústria de 20 de agosto de 1991:

 

“Cirurgia de ponte de safena; um mercado em 1988 de 350 mil cirurgias somente nos EUA. Isto representou no ano um faturamentos superior a US$ 5 bilhões. O número de pessoas operadas naquele ano foi perto de 0,15% de toda a população norte americana, o que equivale dizer 1% desta população em seis anos. O Brasil se orgulha em ser o segundo país após os EUA na realização deste tipo de cirurgia, com um número anual superior a 20 mil casos operados.

 

Recentemente, foi publicado no Jornal O Globo (22/11/90) um estudo multicêntrico, realizado nos EUA por diversas equipes médicas de universidades e centros médicos de diferentes Estados americanos. A conclusão deste estudo foi de que o índice de sobrevivência de pacientes cardíacos operados com implante de ponte de safena, desde meados dos anos 70, foi praticamente igual ao de um grupo de controle para fins comparativos, de pacientes não operados, tratados dentro da terapêutica clínica tradicional.

 

Os resultados destes estudos confirmam os dados apresentados pelo Dr. Jayme Landmann em seu livro “Evitando a Saúde e Promovendo a Doença”, de 1982, Edições Achiamé, no qual, além de suas opiniões contrárias à cirurgia de ponte de safena, citou a de vários outros médicos norte-americanos que naquela época já tinham chegado a mesma conclusão. Mesmo com as pesadas críticas que esta cirurgia estava sofrendo na ocasião nos EUA, o número de casos operados que era de 100 mil por ano em 1982 sofreu até 1988 um incremento de 350% (6 anos). Reforçam além de tudo os conceitos do Doutor Quintiliano de Mesquita, expostos em seu livro “Como Escapar da Ponte de Safena e do Enfarte do Miocárdio só com Remédio”, Editora Ícone, 1991.

 

O The Economist demonstrando as mesmas inquietações e dúvidas há pouco tempo interrogou: a cirurgia de ponte de safena serve para salvar vidas?

 

O que é estarrecedor para nós leigos é que se a cirurgia de ponte de safena não aumenta o tempo de sobrevida do paciente operado nem serve para salvar vidas, qual seu verdadeiro objetivo e quem está se beneficiando de um futuro melhor?

 

Percebe-se claramente que esta discussão não pode ficar restrita somente ao meio médico, pois não podemos, na qualidade de seres humanos, com consciência e raciocínio, sermos tratados como um rebanho de ovelhas inocentes, prontas para o sacrifício.

 

Por outro lado, apesar das estatísticas apresentarem já algum tempo resultados negativos e conflitantes, com o entusiasmo dos cirurgiões cardiovasculares a respeito da ponte de safena, este mercado envolve tantos e tão grandes interesses do complexo médico-industrial (o clínico comprometido, o cirurgião e seus assistentes, o corpo de enfermagem, o perfusionista, o hospital, os laboratórios de análises clínicas, os laboratórios farmacêuticos, os fornecedores de equipamentos etc.), que dificilmente esta enorme engrenagem vá parar de repente.

 

Podemos, ao contrário, esperar que esta cirurgia, badalada pelo modismo e protegida pelo silêncio dos meios de comunicação, irá prosperar até que nos EUA, além da pressão dos médicos não comprometidos, os pacientes e suas famílias comecem a perceber o engodo e passem a ingressar com ações legais, acabando com o descalabro.

 

Os operados que esperavam uma vida melhor, seus parentes e amigos que lhe convenceram de que a única opção seria a cirurgia para que não sofresse o inevitável enfarte e caminhasse para a morte, motivado pelo excelente marketing desenvolvido pelos cirurgiões, também devem sentir-se responsáveis e comprometidos ainda mais quando os resultados não foram àqueles esperados.

 

Aqui no Brasil, cuja Justiça tem sido tão complicada e morosa, no caso de erros médicos, necessitando desde registro de provas na polícia até o testemunho de pessoas presentes ao ato, tornam difíceis e desestimulam as ações legais, além de que, quando existe o julgamento, é na maioria, por insuficiência de provas, desfavorável aos pacientes prejudicados.

 

Hoje com o advento do Código de Defesa do Consumidor, abriram-se perspectivas de ações mais rápidas para erros médicos, incluindo a indicação cirúrgica desnecessária. Caso o médico, por exemplo, aponte como única opção que o paciente só melhorará se fizer uma cirurgia de ponte de safena e este depois de operado venha a sofrer um enfarte ou não sobreviva, razoes as quais o levaram para a mesa de operação, o paciente ou sua família poderá, dependendo do que lhes foi afirmado, ingressar com este tipo de ação legal.

 

Todo médico tem tanto obrigação como dever moral e ético de acompanhar e estar a par do progresso científico da medicina e, principalmente de sua especialidade. Caso o médico indique um tratamento de risco para o paciente, o qual esteja sendo contestado como ineficaz ou prejudicial, estará possivelmente sujeito a ser processado por erro médico.

 

Por isso é sempre importante contar com uma segunda opinião antes de aceitar a recomendação para realizar uma cirurgia. Dentro de nosso entendimento bastam documentações científicas que comprovem a existência de outras opções terapêuticas testadas e aprovadas na prática para que o paciente mal informado, não podendo praticar assim o seu legítimo direito de escolha, possa juntamente com um bom advogado ter sucesso no processo legal contra o erro médico por indicação cirúrgica desnecessária.”

 

Seção Denúncias