Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Táticas do Medo: Palavras que Mutilam

 

Dr. Bernard Lown, eminente professor de cardiologia da Escola de Harvard, proporcionou diversos avanços médicos (entre eles o desfibrilador de corrente direta para ressuscitação cardíaca e para cardioversão) além de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1985. Em seu fascinante livro “The Lost Art of Healing” de 1996 (A Perdida Arte de Curar) discute sobre as táticas do medo usadas por médicos no convencimento dos pacientes para estes se submeterem à terapêuticas intervencionistas. A seguir apresentamos alguns trechos do capítulo ‘Palavras que Mutilam’:

 

“Médicos nunca deveriam instilar um paciente com incerteza e medo, mas lamentavelmente o fazem. Como consultor em cardiologia eu vejo muitos pacientes que procuram segundas opiniões sobre a conveniência da operação de ponte de safena ou de válvulas cardíacas. Eles freqüentemente aparecem ansiosos e cheios de apreensão mórbida, e eu aprendi com consternação que estas emoções são largamente iatrogênicas – resultantes da linguagem que os médicos usam. Durante os últimos poucos anos eu observei que muitos pacientes amedrontados anularam a primeira opinião médica. Como é minha prática ver o marido e esposa juntos, eu registrei somente aquelas expressões repetidas por cada um independentemente. Assim acumulei muitas centenas dessas desastradas sentenças. As seguintes são as mais comuns.

-                  Você está vivendo um tempo emprestado

-                  Você está decaindo rápido

-                  O próximo batimento cardíaco pode ser seu último

-                  Você pode ter um enfarte ou coisa pior a qualquer minuto

Eu ouvi numerosas variações das frases “Você tem uma bomba relógio em seu peito” e “Você é uma bomba relógio ambulante.”

O cardiologista apontou para uma artéria obstruída na angiografia coronária e informou a esposa do paciente, “Este vaso sangüíneo estreitado é um fazedor de viúvas”. Outro paciente lembra de seu médico dizendo, “Eu estou assustado simplesmente em pensar na sua anatomia”.

Um paciente que passou por um enfarte e resistiu quanto a se submeter a operação de ponte de safena relata, “O médico disse que não podia garantir que o próximo enfarte não fosse meu último.” A urgência da operação foi levada para outro paciente como “A cirurgia deverá ser feita imediatamente, preferivelmente ontem.”

 

No livro ele narra o seguinte evento:

“A senhora Glimp apareceu totalmente confusa e zangada. Antes da operação seu marido tinha um temperamento equilibrado, imperturbável, sempre otimista. Agora ele andava deprimido e chorava facilmente.

Mas o que esse pessoal esperava de mim? O dano já tinha acontecido. Nada que pudesse fazer iria restaurar seu cérebro lesionado ou consertar seu músculo cardíaco gravemente prejudicado. Eu perguntei porque eles não procuraram por uma segunda opinião antes da operação. Ambos pareceram surpresos ao que parecia como uma questão vazia. “Era uma matéria de vida e morte. E onde iríamos conseguir uma segunda opinião e porque nós a desejaríamos? Ele teve 3 bloqueios, o médico disse. “Não poderia ser pior.”

A esposa estava irada. “Quando sua casa está pegando fogo, você pede uma segunda opinião? Você chama o corpo de bombeiros. Isto é o que pensávamos estar fazendo. O doutor assegurou-nos que desde que o coração do Harold estava em boa forma, ele iría suportar sem esforço a operação.

Este homem tinha o músculo cardíaco com uma função normal e estava assintomático. Tais pacientes invariavelmente não requerem operação. Uma operação é aconselhada para prevenir morte súbita ou enfarte. Entretanto, quando o músculo cardíaco está intacto, a vida não é prolongada e nem o enfarte é evitado pela colocação da ponte de safena nas artérias coronárias. Foram as palavras mutilantes que terrificaram o marido e a esposa tornando-os prontos para fazer qualquer coisa que o cardiologista aconselhasse”.    

 

“Aqui está um par de normas práticas. Primeiro, quando um paciente está largamente assintomático ou experimenta um esporádico episódio de angina, raramente existe necessidade para uma cirurgia cardíaca. De fato, ele tem um amplo tempo para obter uma segunda opinião. Segundo, por mais que o médico recorra a táticas do medo usando terminologia assustadora, e exprima um prognóstico sombrio, menor credibilidade deverá ser atribuída ao seu conselho. Um médico que se expõe dessa forma é tanto um vendedor como um charlatão que nunca superou o desejo infantil de brincar de Deus. Quando obtiver uma segunda opinião, indique francamente que qualquer que seja o procedimento invasivo aconselhado o mesmo será realizado em outro hospital. O médico que proporciona consulta não pode ter qualquer incentivo financeiro seja qual for o curso de ação prescrita”.

 

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