Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Tratar o Paciente, Não a Lesão
O Dr. Peeyush Jain no Heart of the Matter, Nova Deli – Índia, jornal de prevenção e tratamento de doenças do coração, hipertensão e diabetes, escreve em editorial contra a tendência na medicina de tratar primariamente a lesão e não o paciente. Neste editorial, que reproduzimos abaixo em sua totalidade, ele conta uma estória tecendo comentários: “O jovem médico foi posto no laboratório de cateterismo logo após receber uma bolsa de estudos de cardiologia. Um dia, enquanto olhava para um filme de angiografia coronária, ele perguntou a seu superior, “O que deverá ser feito quanto a lesão?” O superior sorriu e replicou, “Nós devemos tratar o paciente, não a lesão.” Esta declaração produziu uma profunda impressão no subalterno. Por fim o superior tornou-se professor e pediu prematuramente sua aposentadoria dizendo adeus ao meio acadêmico e tornando-se diretor do departamento de cardiologia intervencionista de uma grande organização particular. Enquanto professor ficou famoso pelo respeito às regras depositadas no compêndio da cardiologia. Ele nunca recomendou a angiografia sem uma cuidadosa consideração. Todos os filmes angiográficos eram discutidos minuciosamente nas conferências feitas pela manhã, e direções para ação eram decididas coletivamente. Alguns pacientes foram aconselhados a fazerem angioplastia coronária, outros foram referidos para cirurgia de ponte de safena, enquanto um número substancial continuou com tratamento medicamentoso e acompanhamento. Após começar sua prática na organização onde estava agora trabalhando houve uma mudança perceptível no antigo tratamento clínico do professor. Agora ele aconselhava a angiografia coronária para quase todos os pacientes suspeitos de sofrerem de doença das coronárias. E, após a angiografia, ele aconselhava a angioplastia ou cirurgia para quase todos os pacientes cujo diagnóstico fosse confirmado. Pareceu como se ele tivesse perdido a fé no tratamento através de remédios. Sua decisão de implementar terapia intervencionista se tornou mais ad-hoc, pronta e orientada para a lesão. Um número substancial destes pacientes era assintomático, diagnosticados durante exame médico de rotina. Finalmente ele começou a tomar sozinho todas as decisões cruciais, já que não havia provisão para uma conferência angiográfica ou produzir uma decisão coletiva na sua nova empresa. O jovem médico voltou do estrangeiro onde estava a trabalho juntando-se novamente ao seu ex-professor. Depois disso o jovem percebeu a mudança drástica no tratamento dado pelo seu superior. Um dia não pode resistir a tentação de perguntar a ele a razão de tal reviravolta. O ex-professor respondeu, “Bem, existem muitas razões. A razão mais importante é econômica. Quando era professor, eu não estava preocupado com dinheiro. Eu estava somente preocupado com qualidade. Mas agora, se eu não realizar um número mínimo de procedimentos, eu irei perder meu aumento anual ou mesmo pôr em perigo minha posição como diretor. Esta é uma organização comercial, você entende. A outra razão é que se eu não realizar angioplastia ou cirurgia na maioria destes pacientes, alguém mais irá, então porque não serei eu a fazê-las?”. Mesmo que esta estória seja uma mistura de fatos com ficção, ela reflete a tendência esmagadora atual. A prática médica institucional na Índia de hoje tem 2 estilos diametralmente opostos de funcionamento, que tem pouca semelhança entre si. Estas tendências se tornaram acentuadas depois da introdução da medicina de alta tecnologia. Não existem dúvidas que muitas instituições acadêmicas no país estão desintegrando-se. Pessoas talentosas estão deixando-as por pastagens mais verdes. A qualidade do serviço pode estar deteriorando devido ao encurtamento de fundos, grande número de pacientes, falta de visão, decisões demoradas e corrupção. Mas, o objetivo primário de tais instituições continua sendo o bem estar do paciente. Portanto, a maioria dos médicos acha seu trabalho satisfatório, a despeito de seus salários relativamente baixos. Vários controles e balanços providenciados por médicos jovens, superiores e colegas contemporâneos previnem a má administração nos pacientes. Casos mais sérios e alternativas de tratamento são discutidas em reuniões clínicas, antes de maiores decisões serem tomadas. Então, o objetivo primário que busca o ótimo cuidado do paciente continua sendo conseguido na grande maioria dos casos. Não existe falta de visão, fundos, e dinamismo no setor médico privado. Tais organizações deveriam estar capazes de providenciar muito melhor cuidado para os pacientes. Infelizmente, este não é sempre o caso. O coração da matéria é que o objetivo primário de tais instituições e o pessoal que nelas trabalham é de proporcionar serviços por honorários e colher os lucros. Isto por si mesmo não é uma má idéia, se implementado sem quebrar as regras básicas da medicina. A mais importante regra talvez seja que deveria haver a probabilidade da eficácia do tratamento e uma baixa probabilidade de causar danos. Algumas práticas comuns na cardiologia desprezam esta regra básica da medicina. Hoje, os cardiologistas como um clã estão prosperando com os custosos procedimentos invasivos e cirurgia os quais podem não ser indicados para um significativo número de casos. A revascularização de áreas relacionadas ao enfarte e cirurgias de doenças valvulares não-críticas são exemplos fundamentais de tais práticas enganosas. O problema com o cuidado médico privado neste país é que não existe nenhum controle sobre esse estilo de funcionamento. Os médicos que trabalham nestas instituições privadas estão largamente livres para formar seus próprios conjuntos de regras, a despeito dos princípios gerais dos compêndios de cardiologia. A falta de medidas reguladoras sobre o cuidado médico tem causado um exorbitante e inapropriado aumento na despesa médica em nosso pobre país. É o tempo certo para que alguns princípios gerais sejam formulados e cumpridos estritamente para refrear esta perturbadora tendência.
|