Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Estudo Comparativo a Longo Prazo Mostra Maior Mortalidade e Incidência de Enfarte na Angioplastia do que no Tratamento Médico

 

Uma comparação dos efeitos à longo prazo entre a angioplastia e o tratamento médico conservador em pacientes com angina estável foi desenvolvida pelos membros do RITA-2 (Randomised Intervention Treatment of Angina) envolvendo 1018 pacientes recrutados de 20 centros de cardiologia do Reino Unido e Irlanda e seus resultados publicados na revista Lancet de agosto de 1997 (1).

 

Dos 1018 pacientes, que tinham características similares tanto no grau de angina como no número de artérias coronárias doentes envolvidas, 504 foram submetidos a angioplastia e 514 ao tratamento médico. Dentro de um período médio de 2-7 anos foi verificado que a mortalidade ou enfarte miocardico definido ocorreu em 32 pacientes (6.3%) submetidos a angioplastia e em 17 pacientes (3.3%) do grupo tratado medicamente.

A conclusão deste estudo foi de que qualquer potencial benéfico da angioplastia sobre o tratamento médico precisa ser balanceado contra o aumento de risco de mortalidade ou enfarte miocárdico os quais representaram nos testes realizados quase duas vezes mais do que o tratamento médico.

 

Aqui no Brasil tivemos um estudo similar (2) onde foram  comparados pacientes com angina estável e que receberam tratamento médico com outros que se submeteram a angioplastia, sendo seguidos por um período de 3 anos. Neste estudo realizado no Instituto do Coração (Incor) por Hueb WA, Bellotti G, de Oliveira AS, Arie S, de Albuquerque CP, Jatene AD e Pileggi F, publicado no Journal of American College of Cardiology - JACC (2) não foram encontradas diferenças na mortalidade e na incidência de enfarte entre o grupo médico (72 pacientes) e de angioplastia (72 pacientes).

 

John Bittl, em trabalho de revisão (3), coloca que embora a angioplastia coronária reduza imediatamente os sintomas de angina em quase todos os pacientes que se submetem a ela, seu uso está associado com óbito e enfarte do miocárdio em cerca de 5% dos pacientes e com reestenose requerendo a repetição da angioplastia ou cirurgia de ponte de safena em cerca de 30%.  Comenta ainda que o efeito do tratamento através de intervenções mecânicas nas coronárias está confinado a segmentos coronários discretos, uma vez que o processo patológico da aterosclerose coronária é difuso.

 

Recentemente, outra revisão sistemática conduzida por um grupo Suiço-Canadense confirmou que a angioplastia não reduz o enfarte miocárdico não fatal, o óbito ou a repetição da angioplastia. Sua conclusão foi que a angioplastia pode levar a uma grande redução na angina em pacientes com doença coronária comparativamente ao tratamento médico, mas a um custo de mais cirurgias de ponte de safena e enfartes do miocárdio fatais e não fatais (4).

 

Bibliografia:

1. “Coronary angioplasty versus medical therapy for angina. the second Randomised Intervention Treatment of Angina (RITA-2) trial. RITA-2 trial participants, Lancet 1997 Aug 16;350(9076):461-8

2. "The Medicine, Angioplasty or Surgery Study – MASS. A prospective randomized trial of medical therapy, balloon angioplasty or bypass surgery for single proximal left anterior descending artery stenoses, JAAC 1995; 26(7): 1600-1605

3. Advances in Coronary Angioplasty: John A Bittl. NEJM, October 24 1996;1290-1300.

4. Percutaneous transluminal coronary angioplasty versus medical treatment for non-acute coronary heart disease. meta-analysis of randomised controlled trials. Heiner C Bucher, Peter Hengstler, Christian Schindler and Gordon H Guyatt, BMJ 2000;321:73-77

 

 

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