Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Depressão Grave Após Cirurgia de Ponte de Safena é Importante Fator de Risco para Eventos Cardíacos, Atingindo 20% dos Pacientes
A depressão é uma importante predição de morbidade e mortalidade em pacientes com doença coronária particularmente após o enfarte do miocárdio, independente da história cardíaca prévia ou severidade da doença arterial coronária. A prevalência de depressão grave entre pacientes que sofreram enfarte do miocárdio ocorre em 15 a 20% dos pacientes, com um adicional de 27% de pacientes reportando sintomas mais leves de depressão (1, 2, 3).
A despeito do bem documentado risco de depressão após o enfarte, permanecem diversas questões e incertezas acerca do mecanismo da relação entre distúrbios de humor e resultados adversos. Segundo Ziegelstein RC (3), da Divisão de Cardiologia do Johns Hopkins University School of Medicine, este vínculo poderia ser explicado por uma associação com baixos níveis de apoio social, uma pobre adesão às terapias médicas recomendadas e de mudanças no estilo de vida, intencionadas para reduzir o risco de eventos cardíacos subseqüentes. Diz em seu artigo que, infelizmente, as questões relacionadas com o mecanismo fisiopatológico da depressão neste cenário são confrontadas por incertezas quanto ao tratamento ótimo da depressão para os pacientes que se recuperam de um enfarte do miocárdio e pela falta de conhecimento sobre se o tratamento da depressão reduz o risco associado de aumento na mortalidade.
O intrigante é o surgimento da depressão grave antes e após cirurgia de ponte de safena de safena trazendo alto risco de eventos cardíacos após a operação, praticamente com a mesma taxa de depressão daqueles pacientes que sofreram enfarte do miocárdio.
A depressão que acontece anteriormente à cirurgia de ponte de safena, e sua associação com eventos cardíacos foi estudada no Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia (4). Este estudo, que teve o objetivo de examinar se o estado psicológico medido antes da cirurgia de ponte de safena poderia contribuir para a previsão de resultados à curto e longo prazo após a cirurgia de ponte de safena, envolveu 171 pacientes consecutivos os quais completaram um questionário psicosocial antes de serem escalados para a cirurgia de ponte de safena, e outro questionário após 1 ano. A conclusão do estudo foi de que na avaliação de pacientes exibindo um alto grau de angustia (ansiedade, depressão e cansaço) antes da cirurgia, seu estado estava muito pior tanto antes da operação como no seguimento após 1 ano. Para os autores foi igualmente importante o fato de que os pacientes considerados angustiados antes da cirurgia tiveram altas taxas de eventos cardíacos (16%) no período de 3 anos de seguimento, em comparação com os pacientes não angustiados (5%).
A depressão que acontece após a cirurgia de ponte de safena e sua associação com eventos cardíacos foi tratada em estudo prospectivo publicado no Lancet de Novembro de 2001 (5). Neste o objetivo foi verificar o efeito da depressão nos resultados após cirurgia de ponte de safena. O grupo constou de 207 homens e 102 mulheres que foram submetidos à cirurgia de ponte de safena e seguidos durante um ano. A depressão nos pacientes foi avaliada em entrevistas psiquiátricas e através de um questionário preenchido antes da saída. Os eventos cardíacos incluíram angina ou insuficiência cardíaca que necessitaram hospitalização, enfarte do miocárdio, parada cardíaca, angioplastia, repetição da cirurgia, e mortalidade cardíaca. Deste grupo, 20% (63 pacientes) foram classificados como tendo depressão mais grave. Em 12 meses 27% (17/63) dos pacientes com depressão tiveram um evento cardíaco, em comparação com 10 % (25/246) dos pacientes que não estavam com depressão. A interpretação dos autores foi de que a depressão é um importante e independente fator de risco para eventos cardíacos após cirurgia de ponte de safena.
Embora esteja bem estabelecida hoje em dia a associação da depressão com conseqüências adversas em pacientes coronários, o mecanismo fundamental para esta associação continua obscuro. Entretanto, o mecanismo desencadeante da depressão grave antes e após a cirurgia de ponte de safena e com alto risco de eventos cardíacos faz-se intrigante, pois se compreende o enfarte como fator adverso, enquanto que a cirurgia representa a esperança daquele que se entrega de corpo e alma na certeza de que o mal está sendo erradicado, e só a confiança e otimismo deveriam prevalecer. Assim, nestes termos, a depressão antes ou após a cirurgia de ponte de safena não pode ser admitida como se fosse uma reação natural do ser humano frente a um evento que está ameaçando sua vida.
Veja também Bibliografia1. Depression in chronic medical illness: The case of coronary disease. Burg MM, Abrams D, J Clin Psychol 2001 Nov; 57(11):1323-372. Depression after coronary heart disease events. Lehto S et al, Scand Cardiovasc J, 2000 Dec; 34(6):580-3.3. Depression after Myocardial Infarction. Ziegelstein RC, Cardiol Rev 2001 Jan-Feb, 9(1):45-514. Emotional distress before coronary bypass grafting limits the benefits of surgery. Perski A et al, Am Heart J 1998 Sep;136(3):510-7.5. Relation between depression after coronary artery bypass surgery and 12-month outcome: a prospective study. Ingrid Connemey, Peter A Shapiro et al., The Lancet, 24 November 2001,358;9295.
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