Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Os Motivos do Exagero da Angiografia e da Revascularização nas Síndromes Coronárias Agudas
Richard A. Lange e L. David Hillis em editorial no The New England Journal of Medicine (1) comentando sobre os resultados do Estudo de VANQWISH, publicado na mesma edição desta prestigiada revista, e de outros 3 estudos anteriores, juntos reunindo 6400 pacientes, que comparam o tratamento agressivo (invasivo) com o conservador no tratamento das síndromes coronárias, colocam:
“Com notável clareza e consistência, todos os 4 estudos mostram que a angiografia e revascularização de rotina não reduzem a incidência de re-enfarte ou morte comparativamente com um tratamento mais conservador”
Lange e Hillis sugerem 4 razões para a persistência da moda atual para a rotina de angiografia e revascularização nas síndromes coronárias agudas. Parafraseadamente elas são:
1) Pacientes e suas famílias insistem no tratamento agressivo. Lange e Hillis escrevem: “O termo ‘tratamento conservador’ pode projetar a impressão (tanto para médicos como para pacientes) de obsolescência, inadequação e inferioridade”. 2) Cardiologistas e outros médicos podem estar céticos sobre a aplicabilidade de estudos científicos em seus pacientes. 3) É difícil aceitar fatos que não estão conforme os preconceitos de cada um. 4) A abundância de instalações para a realização de angiografia e revascularização, o pessoal treinado para realizar estes procedimentos, a remuneração monetária envolvida e a vontade de sua realização por aqueles médicos e hospitais com acesso a esta tecnologia, cujos conceitos estão entranhados na cultura atual.
Dizem ainda no editorial que a combinação destes fatores encoraja o uso da angiografia e da revascularização mesmo sem uma clara indicação. No caso de um resultado adverso o paciente e sua família podem ser mais compreensivos e perdoar quando um tratamento agressivo foi seguido (isto é, “se todo o possível foi feito”), mesmo se tal procedimento contribui diretamente ou indiretamente para o resultado adverso.
O cardiologista David Rollo de Melbourne na Austrália, em artigo sobre o assunto (2), acrescenta: “Naturalmente as emoções reinam supremas, como em outras áreas do comportamento humano, e as pessoas em face com a escolha de “fazer alguma coisa”, ou adotar um tratamento conservador, muitas vezes não desejam ouvir a verdade – Elas desejam “que alguma coisa seja feita e o problema resolvido”. Infelizmente o problema a ser reparado não está primariamente dentro das coronárias, mas em alguma parte do corpo, e na casa e no supermercado – e não serão corrigidos por balões plásticos e metais da era espacial.”
Bibliografia 1. Use and Overuse of Angiography and Revascularization for Acute Coronary Syndromes” NEJM, June 18, 1998, nº 25 2. Usenet, newsgroup sci.med.cardiology. Grupo de discussão sobre cardiologia na Internet em 20/6/98
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