Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
Outros cardiotônicos endógenos: Apelin, Coenzima Q10, Carnitina, Piruvato e Taurina
Outros agentes endógenos, que vêm demonstrando seus poderes cardioprotetores em diversos estudos:
a) Peptídeo hormonal apelin, agente endógeno inotrópico positivo, descoberto em 1998, quando foi isolado de extratos do tecido de estômago bovino. O apelin é um potente estimulador da contratilidade cardíaca, e achado em alta concentração no tecido cardíaco. Estudos recentes relatam níveis de apelin no sistema circulatório humano, inclusive no coração humano saudável . Em um deles foi demonstrado o aumento dos níveis de concentração de apelin no plasma sangüíneo de pacientes com disfunção ventricular esquerda onde os autores concluem que o apelin surge como um novo e importante mediador no controle cardiovascular. Outro estudo mostrou que os níveis de apelin foram aumentados em 4.7 vezes na insuficiência cardíaca crônica devido a doença coronariana e 3.3 vezes devido a miocardiopatia idiopática dilatada, enquanto o níveis do apelin no átrio permaneceram inalterados. Nesse, os autores disseram que seus resultados sugerem que o apelin e seu receptor APJ, como novo peptídeo regulador cardíaco, possa contribuir para a fisiologia patológica da insuficiência cardíaca congestiva. Outro estudo demonstrou que o apelin pode ser usado como um agente inotrópico positivo agudo em pacientes com insuficiência isquêmica do coração. Um novo estudo procurou medir a concentração de apelin no soro de 220 pacientes com insuficiência cardíaca comparando com 22 do grupo de controle com idade equivalente. Como resultado observou-se que as concentrações de apelin foram significativamente mais baixas nos pacientes com insuficiência cardíaca, o que contraria trabalhos anteriores que envolveram poucos pacientes (1,2,3,4,5,6,7, 8).
b) Coenzima Q10, que é um nutriente celular crítico, biosintetizado na mitocôndria, tendo sido isolado das células do músculo cardíaco em 1957 por Frederick Crane. Em 1972 Gian Paulo Litarru e Karl Folkers documentaram a deficiência da coenzima Q10 na doença cardíaca humana. A coenzima Q10 tem alta concentração no músculo cardíaco, sendo que a severidade da insuficiência cardíaca se correlaciona com a severidade da deficiência de CoQ10. A deficiência de coenzima Q10 também foi observada em pacientes com angina pectoris, doença arterial coronária, miocardiopatia, hipertensão, prolapso da válvula mitral e após revascularização coronária. Diversos estudos demonstraram benefícios clínicos com a terapia através do suplemento de coenzima Q10, desenvolvido em laboratório, em todas essas situações, inclusive na preservação do miocárdio. Um desses estudos mostrou que no período de um ano de follow-up após o enfarte do miocárdio, seis pacientes (20%) do grupo de controle tomando placebo morreram de re-enfarte enquanto apenas um paciente do grupo tomando coenzima Q10 teve óbito por causa não cardíaca. Em outro estudo realizado durante 28 dias em pacientes com enfarte agudo do miocárdio foram comparados 73 pacientes tomando coenzima Q10 com 71 pacientes tomando placebo. Após o tratamento, a angina pectoris (9,5% vs 28,1%), total de arritmias (9,5% vs 25,3%), e pobre função ventricular esquerda (8,2% vs 22,5%) foram significativamente reduzidos no grupo tomando coenzima Q10. O total de eventos cardíacos, incluindo óbitos cardíacos e enfarte não fatal, foram também significativamente reduzidos no grupo tomando coenzima Q10 (15% vs 30,9%). No follow-up de um ano desses pacientes o uso da coenzima Q10 reduziu os eventos cardíacos secundários ao enfarte (24.6% vs 45%) incluindo reenfarte não fatal (13.7% vs 25.3%). Os óbitos cardíacos também foram significativamente reduzidos no grupo tomando coenzima Q10 em comparação ao grupo de controle. Enfim, a terapia com o suplemento de coenzima Q10 está associada a melhorias significativas nos aspectos funcionais, clínicos e hemodinâmicos sendo que ela aumenta o rendimento cardíaco por exercer um efeito inotrópico positivo sobre o miocárdio, além de uma moderada vasodilatação. (9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19, 20)
c) Carnitina, que é um aminoácido secundário achado em todas as células do corpo, especialmente músculos estriados. É sintetizada no fígado, nos rins e cérebro de aminoácidos lysina e methionina. Dois análogos da carnitina, a L-carnitina acetil e a L-carnitina propionil tem sido usados clinicamente. Elas tem um importante papel no transporte de ácidos graxos livres através da parte interior das membranas da mitocôndria para a produção de energia. É um co-fator no metabolismo de carboidratos e tem sido notada por reduzir o depósito de metabólitos tóxicos em uma condição isquêmica e relatada com um efeito benéfico sobre a função cardíaca por sua capacidade como inotrópico positivo. Existem inclusive alguns testes indicando o papel benéfico da carnitina na redução da necrose em pacientes com enfarte agudo do miocárdio, caso seja dada até 8 horas do início dos sintomas (21, 22, 23).
d) Piruvato que é uma substância formada no processamento de carboidratos e proteínas sendo uma fonte de energia para as mitocôndrias (24, 25, 26, 27, 28, 29)
e) Taurina que é um aminoácido B sulfônico produzido naturalmente pelo corpo humano (30,31,32,33,34).
Veja também os seguintes artigos:
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* Última revisão: Julho 2008
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