Colesterol
alto e aterosclerose
Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio
O Colesterol é
inocente!
“O homem prefere
acreditar naquilo que ele prefere seja a verdade”,
Francis Bacon
(1521-1626)
Michel de Lorgeril, cardiologista e pesquisador no departamento de
ciências da vida do Centro Nacional de Pesquisa Científica na França, e
bastante conhecido internacionalmente por seus trabalhos sobre os
benefícios da “dieta mediterrânea”, publicou recentemente o livro “Diga a
Seu Médico que o Colesterol É Inocente, e Ele o Tratará sem Medicamento”
(”Dites à Votre Médecin que le Cholestérol Est Innocent, Il Vous Soignera
sans Médicament”, ed. Thierry Souccar).
Em
entrevista publicada no Jornal Le Monde de 13 de Junho de 2007 e
republicada pelo Jornal do Brasil e pela Folha de São Paulo,
Michel de Lorgeril
afirmou que os remédios anti-colesterol não são eficazes e que haveria
lobbies em favor de seu uso. Respondendo algumas questões
colocadas pelo Jornal Le Monde, notou:
--
A teoria do colesterol em sua forma atual não passa de um castelo de
cartas. Quando utilizamos o senso crítico e analisamos cientificamente os
dados da biologia experimental, da epidemiologia e de ensaios sobre casos
clínicos, tudo desmorona. O colesterol não entope as artérias; o risco de
morrer de infarto não é proporcional ao nível do colesterol no sangue e
fazê-lo baixar não reduz o risco de morrer de parada cardíaca.
--
A “teoria do colesterol” beneficia todo mundo: a indústria farmacêutica e
o agro-negócio, os laboratórios de análises, os fabricantes de kits de
medição mas também os médicos, que podem encontrar uma vantagem nessa
medicina automatizada e remuneradora; e finalmente os pacientes, que são
levados a acreditar que ficarão protegidos sem fazer esforços. Não somente
o colesterol é um falso inimigo como é um mau prenúncio do infarto.
Pode-se ter colesterol considerado alto e viver muito tempo sem infarto, e
pode-se morrer jovem de infarto tendo colesterol normal. São igualmente
absurdos os conceitos de bom e mau colesterol.
-- Ao enfocar a prevenção na prescrição de medicamentos, nos desviamos dos
problemas que levam ao infarto. Alguns pensam que podem continuar comendo
gorduras tóxicas e fumando porque tomam sua estatina! Na avaliação do
risco em nível individual, é preciso prioritariamente levar em conta os
antecedentes familiares e o modo de vida. Em termos de prevenção, é
preciso agir sobre os megafatores de risco, que são o tabaco, a falta de
exercício físico e os hábitos alimentares.
--
Os testes recentes de estatinas são gravemente tendenciosos, e os
resultados publicados são fragmentados, às vezes incoerentes, e não
permitem uma análise lúcida de seus efeitos reais. As estatinas deveriam
ser reservadas a casos particulares, mas não há estudos que permitam
identificar os pacientes que se beneficiariam delas.
--
É urgente reavaliar nossos comportamentos em relação ao risco
cardiovascular. É falso pensar que estamos protegidos porque reduzimos o
colesterol. Cabe somente a nós cuidar de nossa saúde, principalmente nos
aproximando do regime mediterrâneo. É preciso produzir novos dados,
libertando-se do etnocentrismo anglo-saxão, que faz acreditar que o que é
supostamente bom para um cidadão de Helsinque [Finlândia] ou de Chicago é
bom para um de Marselha ou de outro lugar.
Os testes clínicos devem ser conduzidos de maneira totalmente
independente. É preciso mais ciência e mais pesquisa médica de qualidade
antes de prescrever um medicamento para milhões de pessoas.
Michel de Lorgeril não é o único médico a defender a inocência do
colesterol, como fator causador da doença coronário-miocárdica.
Recentemente, o British Medical Journal, um dos principais jornais médicos
do mundo, publicou correspondência de Uffe Ravnskov, famoso por suas
críticas a campanha do colesterol, pedindo uma urgente revisão sobre ela
por cientistas sem vínculos com a industria farmacêutica ou de alimentos.
Uffe Ravnskov, argumentou em sua correspondência de 20 de setembro de 2008
no British Medical Journal
(1):
-
Nenhuma associação
entre colesterol e grau de aterosclerose foi encontrada em estudos
pós-óbito em indivíduos não selecionados.
-
O alto colesterol não é
um fator de risco para mulheres, pacientes com falha renal, pacientes
diabéticos, ou pessoas idosas.
-
Pessoas idosas com alto
colesterol vivem mais do que aquelas com baixo colesterol
-
Em grupos de pessoas
com hipercolesterolemia familiar, o colesterol não é associado com a
incidência ou prevalência de doença cardiovascular, e sua média de tempo
de vida é similar ao de outras pessoas.
-
Nenhum estudo
aleatório, controlado, unifatorial, através de dietas, testes de redução
do colesterol, conseguiram demonstrar sucesso na redução da doença
coronária ou total mortalidade.
-
Nenhum teste clínico ou
angiográfico encontrou uma exposição-resposta entre redução do grau de
colesterol individual e conseqüência.
-
Mais do que 20 estudos
de grupos encontraram que pacientes com doença coronário-miocárdica se
alimentaram do mesmo montante de gorduras saturadas que os pacientes
saudáveis do grupo de controle.
-
Sete de 10 grupos de
controle encontraram que pacientes com acidente vascular cerebral se
alimentaram menos de comidas saturadas do que os pacientes saudáveis do
grupo de controle.
-
A concentração de uma
cadeia curta de ácidos graxos no tecido adiposo, a mais confiável
reflexão da ingestão de gorduras saturadas é similar ou menor em
pacientes com doença coronário-miocárdica, comparadas com pacientes
saudáveis em 5 estudos de controle de casos.
-
O efeito do tratamento
na base de estatinas é grosseiramente exagerado e não é devido a redução
do colesterol. Somente em uma pequena porcentagem de ganho benéfico –
apenas em homens de alto risco – esse beneficio será facilmente
contrabalançado por efeitos colaterais, os quais são mais comuns e mais
sérios do que aqueles reportados nos testes com estatinas, se relatados
de alguma forma.
Entre diversos
outros estudos destacando a ineficácia da dieta de baixa gordura/baixo
colesterol, destacamos artigo publicado no European Heart Journal em 1997
dizendo que a crença popular de que a melhor dieta para a prevenção da
doença arterial coronária é aquela com baixa gordura saturada/baixo
colesterol não é suportada pela evidência dos testes clínicos
(6).
Argumentos finais
(ou, os últimos pregos destinados ao
fechamento do caixão contendo a teoria do colesterol)
-
Estudo publicado no American Heart
Journal em janeiro de 2009 apontou que quase 75% dos pacientes
hospitalizados após um enfarte agudo do miocárdio, apresentaram os
níveis de LDL considerados normais. O estudo analisou 136.905 pacientes
de mais de 500 hospitais, entre 2000 e 2006 (2, 3).
-
Estudo publicado no Plos One, em
janeiro de 2009, com acesso gratuito (4), procurou
verificar as correlações entre a magnitude da doença coronária arterial
(DCA), acessada pela angiografia, e um número de parâmetros sistêmicos,
entre eles elevado colesterol no sangue, elevada glicose no sangue e
ácido úrico. No estudo os pesquisadores não puderam achar evidências de
uma associação entre frações lipídicas e a carga de DCA. De outro lado
houve uma estreita correlação entre a glicose no sangue com relação as
lesões ateroscleróticas na artéria coronária. Essa significativa
associação de níveis de glicose no plasma com a doença arterial
coronária, pode ser explicada através da teoria da acidez na
ateroclerose, desenvolvida por um pesquisador brasileiro em 2006
(5)
"Gorduras saturadas e
colesterol na dieta não são a causa da doença coronária. Tal mito é a
maior decepção científica do século e talvez de qualquer século",
George V. Mann, professor de
bioquímica e medicina, 1991
Veja também
Referências:
-
Uffe
Ravnskov, letter “Hypercholesterolemia – Should medical science ignore the
past?”, BMJ; 337:a1668,
Sep 20, 2008.
References and text
free of charge
in BMJ rapid response of 7 September
2008 at
http://www.bmj.com/cgi/eletters/337/aug21_1/a993#201600
-
Maior
parte dos infartados possui colesterol normal, Folha de São Paulo,
Fernanda Bassete, 21/01/2009, em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u492645.shtml
-
Sachdeva A,
Cannon CP et al. Lipid levels in patients hospitalizaed with coronary
artery disease: an analysis of 136.905 hospitalizations in Get Wuth the
Guidelines. Am Heart J 2009;157:111-117
-
Nunes JPL, Silva
JC. (2009) Systemic correlates of angiographic coronary artery disease,
Plos One, 4(1): e4322. doi:10.1371/journal.pone.0004322 em
http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0004322;jsessionid=2491B2D3B67FE3CE63357A2274FDAA9E
-
Carlos ETB
Monteiro, Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo
para explicar aterogênese. Disponível no Infarct Combat Project, January
28, 2008 em
http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf
(versão em português)
-
The low-fat/low
cholesterol diet is ineffective. European Heart Journal 1997:18, 18-22, em
http://eurheartj.oxfordjournals.org/cgi/reprint/18/1/18.pdf
Seção Polêmicas
|