Reportagem Revista Bunte de 10.04.1980, Offenburg – Alemanha pelo Doutor Peter Schmidsberger
“È Assim que um Brasileiro Combate o Enfarte do Coração” (So Bekämpft ein Brasilianer Den Herzinfarkt)
Nos últimos sete anos, 1183 doentes com enfarte agudo foram tratados no Hospital Matarazzo, em São Paulo, e noventa por cento sobreviveram.
O significado dessa cifra passa a revelar sua importância quando se sabe que habitualmente o índice de sobrevivência varia entre sessenta e setenta e cinco por cento. A mortalidade por enfarte nessa clinica brasileira está, aproximadamente, dois terços abaixo da mortalidade em outros locais.
O Professor Quintiliano H. de Mesquita, médico-chefe da Seção de Cardiologia desse Hospital, trata os seus pacientes de maneira diferente. Ele utiliza um método que deve interessar sobremaneira aos nossos médicos, uma vez que o mesmo tem sido desenvolvido em clínicas alemãs: injeções com o medicamento Estrofantina, que é retirado de sementes africanas.
Para um médico alemão, esses felizes resultados têm um especial significado. O médico-chefe do Departamento dos internos do Berliner Waldkrankenhauses, Professor Rolf Dohrmann, utilizou também durante os últimos anos essas injeções de Estrofantina nos casos de enfarte agudo, obtendo o índice de oitenta e quatro por cento de sobrevivência que representava melhoria com relação aos registrados nas demais clínicas. Levando-se em conta o desfavorável estado de velhice de seus doentes, então esse resultado é praticamente comparável ao do brasileiro. Mas, existe ainda uma outra coisa em comum entre os médicos de Berlim e de São Paulo: os outros médicos se opõem a eles.
Em sua mais recente publicação, informou o Professor de Mesquita, sobre a existência de uma ala (do ensino médico) que se manifesta contra o tratamento utilizando Estrofantina para os enfartes agudos do coração. Baseada em trabalhos experimentais, presume essa ala, a existência de um efeito nocivo que se manifesta por um aumento do consumo de oxigênio.
Entre a teoria e a experiência do Professor de Mesquita, perdura uma controvérsia, pois o cardiologista do hospital Matarazzo constatou que com o uso dessa terapia houve não apenas uma diminuição do índice de mortalidade, mas também uma redução das complicações posteriores. O período doloroso é reduzido, a extensão do enfarte é atenuada..
Na clinica brasileira, os enfartados recebem injeções de Estrofantina durante seis dias. O ECG e resultados de laboratório do paciente melhoram e seu aspecto clínico corresponde a essas medidas.
Segundo o Professor de Mesquita, o tratamento através de Estrofantina acarreta a redução da extensão da região enfartada, pois salva-se o tecido muscular do coração que ainda tem condições de vida. Um registro valioso nesse tratamento é a constatação da redução do período doloroso, a rara ocorrência de distúrbios do ritmo e principalmente do choque cardiogênico. Este estado crítico, com pulso rápido e fraco, pele fria e transpiração, corresponde a uma irrigação deficiente dos órgãos, levando a morte.
O choque cardiogênico manifesta-se em dez por cento dos pacientes. Segundo o processo brasileiro, o choque manifestou-se em apenas dois por cento. Isto também corresponde aos resultados do médico de Berlim. Correspondem além de tudo àqueles resultados pelo Professor Ernst Edens entre 1928 e 1944.
Sobre os seus conhecimentos, escreve seu aluno, Professor Karl Zimmermann: “Após três anos pôde o Professor Ernst Edens indicar, em função dos êxitos obtidos com mais de cem cardíacos, o tratamento endovenoso de Estrofantina como a mais segura terapia da Angina Pectoris, inclusive do enfarte do coração e introduzir a aplicação da mesma na clínica”.
Essa publicação feita em 1934 no nº 37 do Münchener Medizinischen Wochenschrift constará como um marco na história da medicina. A nova terapia introduzida por Edens, marcou uma época, pois com ela teve início um novo passo da terapia cardiológica. E o próprio Professor Edens disse: Após o reconhecimento da estrofantina como sendo o melhor e mais seguro medicamento, não temos mais o direito de utilizá-la num doente, apenas por razões cientificas e testes para desconhecidos efeitos, dando preferência a outros medicamentos e perdendo assim tempo precioso para a cura.
Os sucessos do Professor Edens foram tão bons que ele externou a sua comprovação dizendo que chegaria o momento em que a omissão do uso da Estrofantina será vista como falha profissional.
Os resultados do tratamento de São Paulo e de Berlim permitem admitir que esse tempo já se aproxima.”
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